Objetivos do curso

Objetivos do curso: Apresentar, analisar e discutir desafios e estratégias em inovação tecnológica e social importantes para o desenvolvimento nacional, com foco na saúde e suas implicações científicas, tecnológicas, sanitárias e econômicas.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

3.2. Doenças negligenciadas e redes de inovação em saúde


Em outubro de 1999 um importante encontro, promovido em Paris pelos Médicos Sem Fronteira (MSF), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundação Rockefeller, chamou a atenção para um grupo de doenças contra as quais não existiam medicamentos eficazes por serem prevalentes principalmente entre populações pobres ou marginalizadas e portanto fora das prioridades da indústria farmacêutica. Em 2001 relatórios dos MSF e da OMS caracterizaram as doenças em 'globais' ou tipo I; 'negligenciadas' ou tipo II; e 'mais negligenciadas' ou tipo III e enfatizaram a necessidade de ações e mecanismos inovadores para estimular o desenvolvimento de novos medicamentos e intervenções específicos contra estas enfermidades negligenciadas [1,2].

Vários mecanismos e iniciativas tem sido propostos, experimentados ou implementados para combater este problema: desde ações do tipo "push" (mais investimentos em P&D através, por exemplo, de Parcerias Público Privadas / Parcerias para o Desenvolvimento de Produtos, PPPs / PDPs) a mecanismos "pull" (ex: fundos globais para aquisição de insumos) [3].

Mahoney e Morel propuseram em 2006 que três 'falhas' seriam responsáveis por este quadro de carência de intervenções eficazes contra essas doenças[4]:
  • Falhas de ciência, que causam hiatos de conhecimento
  • Falhas de mercado, pela exiguidade de recursos
  • Falhas de sistemas de saúde, por não observância de 'boas práticas'
Para combatê-las ressaltaram a necessidade de diferentes tipos de inovações - tanto tecnológicas como sociais - assim como da participação cooperativa de diferentes atores (organizações nacionais e internacionais; países industrializados, países em desenvolvimento inovadores (IDCs) e também dos países mais pobres e afetados pelas doenças). Em outras palavras, propuseram as bases de um verdadeiro Sistema Global de Inovação em Saúde (SGIS; GHIS em inglês) [4], capaz de enfrentar estes desafios segundo um novo quadro conceitual estruturado ao longo de três eixos: diagnóstico (falhas); terapêutica (inovações); identificação de responsabilidades (atores/agentes - países, organizações).

Dentre os principais componentes necessários ao bom funcionamento de qualquer sistema de inovação - empresas; governo & setor público; redes; financiamento - Morel e colaboradores destacam o papel das redes colaborativas no combate às doenças negligenciadas que afetam as populações pobres e marginalizadas, em particular nos países em desenvolvimento [5,6]. Mostraram ainda que a análise de redes de co-autorias pode ser uma poderosa ferramenta auxiliar no planejamento estratégico e na gestão de programas de financiamento de P&D e de fortalecimento institucional nestas doenças [7].


Referencias citadas
  1. Médecins Sans Frontières Access to Essential Medicines Campaign and the Drugs for Neglected Diseases Working Group (2001) Fatal Imbalance: The Crisis in Research and Development for Drugs for Neglected Diseases. Edited by Berman D, Moon S. Brussels: MSF Access to Essential Medicines Campaign
  2. WHO Commission on Macroeconomics and Health (2001) Macroeconomics and Health: Investing in Health for Economic Development. Report of the Commission on Macroeconomics and Health. Geneva: World Health Organization
  3. Hecht R, Wilson P, Palriwala A (2009) Improving Health R&D Financing For Developing Countries: A Menu Of Innovative Policy Options. Health Affairs 28:974-985
  4. Mahoney RT, Morel CM (2006) A Global Health Innovation System (GHIS). Innovation Strategy Today 2:1-12. Artigo reproduzido, a convite, em: Global Forum Update on Research for Health. Vol. 3: Combating disease and promoting health. Pro-Brook Publishing, 2006, 3:149-15
  5. Morel CM, Acharya T, Broun D, Dang AJ, Elias C, Ganguly NK, Gardner CA, Gupta RK, Haycock J, Heher AD, Hotez PJ, Kettler HE, Keusch GT, Krattiger AF, Kreutz FT, Lall S, Lee K, Mahoney R, Martinez-Palomo A, Mashelkar RA, Matlin SA, Mzimba M, Oehler J, Ridley RG, Pramilla S, Singer P, Yun MY (2005) Health innovation networks to help developing countries address neglected diseases. Science 309:401-404
  6. Morel CM, Carvalheiro JR, Romero CNP, Costa EA, Buss PM (2007) The road to recovery. Nature 449:180-182
  7. Morel CM, Serruya SJ, Penna GO, Guimarães R (2009) Co-authorship Network Analysis: A Powerful Tool for Strategic Planning of Research, Development and Capacity Building Programs on Neglected Diseases. PLoS Neglected Tropical Diseases 3:e501

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