Objetivos do curso

Objetivos do curso: Apresentar, analisar e discutir desafios e estratégias em inovação tecnológica e social importantes para o desenvolvimento nacional, com foco na saúde e suas implicações científicas, tecnológicas, sanitárias e econômicas.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

2.2. Modalidades de aprendizado, de geração de conhecimento e de inovação

Por que alguns países conseguem escapar do subdesenvolvimento e outros não? Por que países que investem recursos similares em pesquisa têm crescimento econômico tão díspares? Perguntas como essas, que levantavam dúvidas sobre a validade ou a aplicabilidade generalizada do 'modelo linear' de Vannevar Bush, tornavam-se cada vez mais frequente à medida que surgiam histórias de sucesso econômico de países sem tradição em pesquisa básica.

A maneira como instituições e países organizam suas atividades de pesquisa e utilizam os conhecimentos daí advindos constitui um vastíssimo campo de estudos [1,2] do qual abordaremos apenas alguns aspectos mais relevantes.

Conhecimento, inovação, aprendizado
  • Como vimos na aula passada, e exploraremos agora em mais detalhes, Gibbons et al chamaram a atenção para os Modos 1 e 2 de geração de conhecimento utilizados majoritaria e respectivamente, por exemplo, pela academia e pela indústria [3];
  • Num trabalho recente, Jensen et al definem dois modos de inovação [4]: o Modo STI (Science, Technology and Innovation) e o Modo DUI (Doing, Using and Interacting). O primeiro lidaria com perguntas do tipo know-what e know-why, buscando ampliar o conhecimento científico e tecnológico; o segundo, com as perguntas know-how e know-who, estaria baseado no aprendizado e na troca de experiências. Segundo estes autores as empresas aptas a usar os dois Modos teriam maiores chances de serem inovadoras.

Diferenças e peculiaridades entre 'o Sul' e 'o Norte'
  • Eduardo Viotti, num estudo em que analisa comparativamente as trajetórias de desenvolvimento do Brasil e da Coréia, propõe que a abordagem analítica "Sistemas Nacionais de Inovação" utilizada pelos países industrializados não se aplicaria a países ainda em desenvolvimento [5]. Nestes, pouco inovadores, seria mais adequado se falar em "Sistemas Nacionais de Aprendizado" que, por sua vez, poderia ser ativo - como no caso da Coréia - ou passivo, como no Brasil. Outros autores disputam esta visão, argumentando que Viotti baseia sua análise em inovações radicais, minimizando o fato que "the rate of technical change and of economic growth dependend more on efficient diffusion than on being first in the world with radical innovations and as much on social innovations as on technical innovations" [6,7]
  • Por sua vez Arocena e Sutz, num interessante artigo, analisam e lançam novas luzes sobre as diferenças entre "o Sul" e "o Norte" relativas aos respectivos sistemas e políticas de conhecimento, inovação e aprendizado [8].
Uma abordagem histórica é também essencial no estudo destas questões e para a compreensão da trajetória do desenvolvimento científico e tecnológico de países que atingiram diferentes graus de industrialização. Basalla, em um artigo clássico, propôs que a ciência ocidental se originou em um pequeno número de países europeus e se disseminou pelo mundo em três fases distintas: (i) estudos da fauna, flora e demais características de países recentemente colonizados; (ii) ciência colonial; (iii) tradição científica independente [9]. Já Sagasti critica esta visão como excessivamente eurocêntrica por propor uma única origem de uma ciência mundial que se "difundiu" pelo mundo deslocando conhecimentos e práticas endógenas aos demais continentes; em vez disso - "difusão" da C&T européia e recebimento passivo pelas colônias - teria havido, na realidade um processo muito mais rico de "difusão, absorção e reinterpretação" [10]. Nas próximas aulas veremos como esta abordagem auxilia a compreensão de fenômenos como o surgimento de "países em desenvolvimento inovadores" (Innovative Developing Countries, IDCs).

Referencias citadas
  1. Lastres HMM, Cassiolato JE, Arroio A (2005) Conhecimento, sistemas de inovação e desenvolvimento. Edited by Lastres HMM, Cassiolato JE, Arroio A. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Contraponto
  2. Kim L, Nelson RR (2005) Tecnologia, aprendizado e inovação: As experiências das economias de industrialização recente. Editado por Editora Unicamp. Campinas, SP
  3. Gibbons M, Limoges C, Nowotny H, Schwartzman S, Scott P, Trow M (1994) The new production of knowledge: the dynamics of science and research in contemporary societies. London; Thousand Oaks; New Delhi: SAGE Publications
  4. Jensen MB, Johnson B, Lorenz E, Lundvall BA (2007) Forms of knowledge and modes of innovation. Research Policy 36:680-693
  5. Viotti EB (2002) National Learning Systems - A new approach on technological change in late industrializing economies and evidences from the cases of Brazil and South Korea. Technological Forecasting and Social Change 69:653-680
  6. Lundvall B-Å, Vang J, Joseph KJ, Chaminade C (2009) Innovation system research and developing countries. In: Lundvall B-Å, Joseph KJ, Chaminade C, Vang J (ed.) Handbook of Innovation Systems and Developing Countries. Edward Elgar, pp. 1-30
  7. Freeman C (1995) The national innovation systems in historical perspective.Cambridge Journal of Economics 19:5-24
  8. Arocena R, Sutz J (2005) Conhecimento, inovação e aprendizado: Sistemas e políticas no Norte e no Sul. In Conhecimento, sistemas de inovação e desenvolvimento. Edited by Lastres HMM, Cassiolato JE, Arroio A. Rio de Janeiro: Editora UFRJ / Contraponto; pp. 405-428.
  9. Basalla G (1967) The Spread of Western Science. Science 156:611-622
  10. Sagasti F (2004) Knowledge and innovation for development. The Sisyphus challenge of the 21st century. Cheltenham, UK; Northampton, USA: Edward Elgar

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